Lyric

Nascido sob o céu do inverno da Noruega

Onde o gelo e a dor aos olhos se entregam

Uma criança viu a pálida decadência

Da vida que se esvai em sua essência

Sua mãe partiu antes que pudesse falar

A irmã respirava fraca a definhar

E a Morte, em mantos de branco cinzento

Foi sua enfermeira no lume lento

Ó Munch, vidente do prazer na dor

Teu pincel rasgou o véu do temor

Teus fantasmas em óleo a gritar

Alma exposta a febre a arder sem par

Ele caminhou onde a loucura mora

Sob céus sangrentos e espuma que aflora

Na ponte ouviu o som que ecoou

Um grito que a eternidade clamou

Não voz mortal, mas algo sem fim

O choro dos tempos, passado e afim

Capturou na tela a dor em expansão

Assim nasceu "O Grito" da aflição

Ó Munch, teus anjos choram e sorriem

Teus amantes pálidos, santos que caem e riem

A dança da vida, do nascimento à morte

Sob teu crepúsculo, na eterna sorte

Pintou o amor com mãos a sangrar

Tocou o vazio onde ninguém pode estar

Suas donzelas choravam em nevoeiro

Bocas abertas em beijos ao vento inteiro

Mas a paixão trouxe o ferrão da serpente

E em seus braços sentiu a morte presente

Sua "Madona" olhava, pura e vil

Com ventre santo e sorriso febril

A criança doente desaparece na cor

A lua de sangue desperta com fervor

A floresta chora, a margem estremece

Em cada quadro, a alma perece

Agora dorme, mas desperta em tela

Imortal na vergonha que a vida revela

Nenhum céu acalmou sua mente aflita

Mas na arte achamos a verdade bendita

Um profeta das sombras e do tormento

Que carregou a loucura como um tormento

E através do tempo, da dor e da vida

Seu pincel assombrado segue em investida

Ó Munch, teus passos em silêncio caminham

Por salões do pensar onde anjos não brilham

Teu legado é chama que tremula e arde

A arte do medo, teu nome não tarde