Lyric

Lábios ressecados

O sal arde na ferida

Mas ainda respira

Mesmo que a chance seja perdida

Gaivotas acima

Piores que corvos mil

Circulam e mergulham

De todo lado, sutil

Um forte acesso de tosse

Se espalha pelo mar

As gaivotas em silêncio

Ele ainda a respirar

O capitão ajoelha

E suspira, sem saber:

— Que fiz eu, meu Deus?

— Como pude me perder?

A recompensa será dor

Talvez a morte em seu final

Na sede e no perigo do animal

Erros meus, pagarei afinal

Em poucos dias, emagreceu

Bebia orvalho e só frutos colheu

De folhas e paus, abrigo construiu

Mas a chuva sua cama molhou, enfim

Suas mãos jamais se rendem

Ele reconstrói tudo… de novo e de novo

Em casa, sua filha espera

A esposa lê todas cartas

As mãos tremem a cada palavra

Dizem a ela: já é hora de parar

Mas ela escreve sem cessar

Conselhos ignorando

O amor a guia

Não deixa de acreditar

O mês passou, pouca comida

Mas achou a fonte da vida

Com a lança afiada

Ele segue o destino

Antes capitão… agora pescador

Água lava feridas

Ramos substituem a cama

Peixe no café, almoço ou jantar

O calor dá lugar à noite gelada

O coração da filha

Não encontra paz

No aniversário dela

Lágrimas sem fim

— Volte para casa

Eu preciso de você, pai

Seu cheiro ainda lembro

Preciso de você aqui

Só quando tudo começou a se ajeitar

A vida apresenta obstáculos a enfrentar

Explorando a floresta

Algo a queimar à distância… talvez uma fogueira

Caminhar pela selva

É um caminho de perigo mortal

Um golpe nas costas

O corpo inteiro fraquejou afinal

Lábios ressecados

O sal arde na ferida

Mas ainda respira

Mesmo que a chance seja perdida

Mas quem está acima

Negro como corvos mil

Circulando em dança

De todos os lados, sutil…